A Cidade, Quarta, 04 de Janeiro de 2012
Mulher volta a acusar Dárcy Vera
Marta Mobíglia diz que foi contratada por telefone pela prefeita e por sua irmã Marli Vera, a ‘Chaveirinho’
Monize Zampieri
A acusada de estelionato Marta Aparecida Mobiglia voltou a envolver a prefeita Dárcy Vera (PSD) e a irmã dela, Marli Vera, a quem chama de "Chaveirinho", no suposto esquema de desvio de casas populares em Ribeirão Preto. Marta e Maria Rosa Lopes Ferreira prestaram depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Cohab, terça-feira (3).
As declarações reforçam depoimento prestado à polícia, em novembro, em que Marta afirmou ter sido contratada por Marli, via telefone, em 2010. A acusada de estelionato declarou que recebia documentos e dinheiro e que os encaminhava à chefe do Executivo, por meio de mototaxistas. Ela disse ainda que não sabia que tudo era irregular.
"Eu achava, não tinha certeza, que [o dinheiro] era para escritura ou registro dos imóveis. Pensava que ia para a mão da Dárcy. Gente, se eu ia trabalhar com ela [prefeita], para quem eu mandava? Ela falou comigo por telefone para saber se eu tinha disponibilidade de receber documentos e dinheiro. Não tenho como comprovar, a não ser pelo meu telefone", declarou.
O vereador e delegado Samuel Zanferdini (PMDB), pediu oficialmente a quebra de sigilo telefônico e bancário, dos últimos dois anos, das suspeitas. Marta confirmou não ter se encontrado com Dárcy ou Marli pessoalmente e disse desconhecer os cinco mototaxistas que buscavam o malote semanalmente.
"A ‘Chaveirinho’ me orientou a receber a documentação. Disse que eu só precisava receber os documentos e o dinheiro, que o resto era com elas. Não achei estranho, achei que [o contato apenas por telefone] era por falta de tempo delas e meu", enfatizou a representante comercial, emendando que Maria Rosa e Regiane Inocente apenas a ajudaram algumas vezes, sem remuneração.
Vencimentos
Marta disse que, inicialmente, recebia salário de R$ 1,8 mil mensais, que também era entregue por mototaxistas, mas que chegou a receber R$ 2,2 mil. Já o valor que recebeu de cerca de 200 pessoas oscilou entre R$ 1,5 mil e R$ 5 mil.
Marta e Maria Rosa caíram em contradição com relação ao momento em que souberam do suposto esquema e do recebimento do dinheiro. Maria Rosa declarou que chegou a depositar cheques em sua conta para compensá-los. "Tinha que ser em dinheiro. Ela [Marta] dizia que [o mototaxista] entregava para alguém na Prefeitura. Nunca mencionou a prefeita ou a irmã dela", ressaltou a arquiteta. "Eu acho estranho. Para mim era tudo regular. Me sinto péssima. Agora eu tenho [conciscência que posso responder processo]", acrescentou.
Habeas corpus ‘desobriga a verdade’
As acusadas de estelionato, que prestaram depoimento como testemunhas, chegaram à Câmara acompanhadas de dois advogados, munidos de um habeas corpus de salvo conduto, que garantia a ambas que não seriam presas, caso a CPI entendesse que houve falso testemunho.
Datado de 3 de janeiro de 2012, o habeas corpus assinado pelo juiz Benedito Sérgio de Oliveira, titular da 2ª Vara Civil, ressalta que ambas estavam "desobrigadas de assumirem compromissos de somente dizer a verdade". Entretanto, de acordo com parlamentares e advogados presentes na reunião ontem, o documento se trata de uma garantia do direito previsto na Constituição Federal em que ninguém é obrigado a produzir provas contra si próprio.
Luchesi diz que história é ridícula
O chefe da Casa Civil, Luchesi Junior, que assistiu ao depoimento das duas mulheres e foi escalado para falar em nome de Dárcy Vera, também desqualificou os depoimentos. "É uma história muito ridícula declarar que por telefone uma pessoa se disse irmã da prefeita, depois que a própria prefeita teria ligado de um número restrito, que nunca houve encontro pessoalmente, que não sabia quem eram os mototaxistas e nem quanto em dinheiro era recebido por semana", ironizou.
Luchesi elogiou a condução da CPI e negou que a acusação prejudique Dárcy. "Ela [Marta] vai ter que se explicar na Justiça", garantiu, emendando nunca tê-la visto na campanha de Dárcy, em 2008.
Marta Mobiglia mais uma vez afirmou que teve contato com a prefeita e com a irmã dela, Marli Vera, para entregar documentos e dinheiro de pessoas interessadas em casas
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