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5/2/2011
Editorial
Temos assistido nos últimos dias a notícias sobre diversos desfavelamentos sendo providenciados pelo Poder Público Municipal.
Encontramos um fator absolutamente comum em todos eles: o destempero e a arrogância do Poder Público que, sem consultar os interessados, resolve estabelecer regras que têm que ser aceites, não importa se servem ou não aos favelados, tais como "é pegar apartamento ou rua" impondo como contrapartida à não aceitação a simples exclusão do programa.
Tiram-se pessoas do aeroporto e jogam-nas do outro lado da cidade, longe de suas raízes sociais estabelecidas ao longo da permanência nessas regiões. Longe de seus empregos e meios de subsistência e toda uma série de outros problemas sócio-culturais que não cabem aqui discutir.
Do jardim aeroporto para o Paulo Gomes Romeu: incongruências do tipo famílias grandes em casas de um dormitório, famílias pequenas com casas de três dormitórios. Qual o critério sociológico? Um sorteio ou simplesmente ausência de critérios pela pressa do desfavelamento?
Favela do Brejo: famílias com nove filhos em apartamentos de 42 m². As pessoas reclamam. Resposta do poder público: ou aceitam ou rua! Excelente conceito científico e técnico de desfavelamento.
E o que é que isso tem a ver com o aeroporto?
As pessoas estão sendo "desfaveladas", segundo as autoridades, ou “expulsas”, segundos os favelados que estão dentro da curva 2 de ruído, que foi expandida pela ampliação do porte das aeronaves que começaram a operar no Leite Lopes a partir de 1980, quando o campinho de aviação foi promovido a aeroporto com a construção do terminal de passageiros, sendo que o entorno já estava ocupado desde a década de 50 por bairros construídos inclusive pela COHAB. Por isso não foram as pessoas as invasoras, mas sim o ruído aeronáutico. Pelos procedimentos oficiais, as pessoas são removidas, mas o ruído aeronáutico invasor fica. Estranha decisão.
Essa ampliação não será licenciada se essas pessoas permanecerem nessa área de exclusão. Dizem que a remoção é um problema de saúde pública. Na verdade buscam é a saúde financeira dos negócios, impedidos pela presença dessas famílias na área.
Esquecem-se que se for construído um aeroporto novo e o Leite Lopes tiver a sua classificação reduzida, também a curva 2 ficará recuada e, regressando aos limites patrimoniais do Leite Lopes, ninguém morará na zona de exclusão.
As pessoas ficam, o Leite Lopes fica como está e temos um aeroporto novo, adequado para Ribeirão Preto e região. Do jeitinho que o ribeirãopretano exigiu em 1995 no Plano Diretor do Município. E uma parte do desfavelamento do município poderá ser feito sem traumas sociais, por meio de reurbanização. É simples assim. E a região passa a ter o aeroporto novo que precisa e merece. E que também será bom para os negócios.
O que é que impede que isso ocorra? A pressa que certos setores têm em ganhar dinheiro no Leite Lopes, não podendo esperar a construção de um aeroporto novo.
Para eles, entre ganhar dinheiro, já, no Leite Lopes e as pessoas do entorno (favelados ou não), vivam os negócios. Para nós as pessoas valem mais que os negócios.
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