O CARNABEIRÃO, o STOCK-CAR e o LEITE LOPES.
Qual é o denominador comum?
Este final de semana foi prodigo em eventos. No mesmo período uma micareta e uma corrida de carros movido a etanol, para prestigiar a capital do agronegócio canavieiro: a etapa ribeirãopretana do Stock-car.
Na segunda corrida, depois de muita reclamação da primeira pelos pilotos, foram feitas adequações nas pistas. Isso incluiu reduzir a área verde de um loteamento de classe média alta. Sim, porque essa corrida não foi feita num autódromo, equipamento adequado para esse tipo de evento. Foi na rua mesmo. Mesmo assim não agradou aos corredores automobilísticos e muito menos à população do entorno imediato cujas únicas vantagens foram ter um recapeamento das vias (esse é bem feito e não vai ter buracos tão cedo) e de ter espantado os Aedes aegypti para bem longe. Essas vantagens foram ignoradas pela falta de interesse dessas populações por causa do incomodo das interdições viárias e do ruído produzido.
Resultado: ano que vem, a corrida vai para outro lugar, ainda a definir. Trouxe muito dinheiro para alguns empresários, gerou alguns empregos minimamente temporários, gastou-se muito dinheiro público para a diversão de certas elites. Mas, os organizadores municipais, inventores dessa modalidade urbana, se esqueceram de um pequeno detalhe: barulho na orelha é bom para pobre não para rico nem classe média alta. O evento prejudicou os negócios imobiliários da área e logo veio a ordem, prontamente obedecida: tira a corrida do bairro e leva para outro lugar. Vão tirar. São muito obedientes aos interesses maiores do mercado.
Por isso é que tem gente pensando (e pensar representa perigo para interesses dos caciques locais e seus negócios) que se o Leite Lopes estivesse na zona sul, ninguém falaria em fazer o puxadinho. Um aeroporto novo, podem crer, já estaria pronto há muito tempo, sem demorar os tais 10 anos que certas autoridades tanto insistem em mentir para o povo. Mas como está em zona de pobre ... o puxadinho é prioritário!
O Carnabeirão é outra invenção de alta rentabilidade. Inicialmente feito ao longo de avenidas de área nobre, logo foi expulsa. O ruído, a sujeira e a urina nas portas e fachadas, logo enfureceu os moradores – que não são pobres – e esse evento foi transferido para o Parque Permanente de Exposições. Área esquecida pelo poder publico municipal, que pode ser destruída, já que está na zona do puxadinho do aeroporto.
A exemplo de outras festas tipo baladas que ocorrem no Parque, é um evento que dura a noite toda, até ao raiar do sol. Nenhum ser biológico – mesmo sendo os tradicionais “aborrecentes” – resiste a todo esse esforço, se não estiver devidamente energizado por bebidas alcoólicas e outros energéticos muito consumidos nessas ocasiões com a tolerância das autoridades e dos empreendedores. Afinal esses energéticos também fazem parte do negócio e geram renda. A prefeitura recebe “uns troco” que pomposamente chama de tributação de ISS, os empreendedores ganham os tufos de dinheiro e a população do entorno fica sem dormir, sem ter o direito constitucional à qualidade de vida e ao merecido descanso.
Mas isso não tem a menor importância para as autoridades administrativas da cidade e para os empreendedores. Como o entorno desse Parque é todo ocupado por pobres e trabalhadores, basta arrumar um atestado médico. E se um trabalhador, por causa de uma noite mal dormida, sofrer um acidente de trabalho, que importa? O importante é deixar a moçada alienada, o empreendedor com lucro e tentar manipular a opinião pública de que o principal é sempre um tal de pretenso interesse público gerador de renda e de arrecadação.
O que é que tudo isso tem a ver com o puxadinho do Leite Lopes (aumento de 300 metros na pista)?
A falta de respeito que os responsáveis pela gestão pública municipal têm pelas pessoas, pelo seu direito à qualidade de vida, pelos seus direitos de cidadania, sempre que os interesses econômicos estão em jogo.
Essa falta de respeito se traduz em hipocrisia quando se argumenta que é em nome do interesse público que se pretende questionar o acordo judicial que impede o puxadinho no Leite Lopes.
Com o puxadinho apenas um interesse econômico é privilegiado porque só assim permitirá a implantação física de um empreendimento que ganhou uma licitação para operar um terminal de cargas internacional, antes mesmo do Leite Lopes ter sido homologado para esse tipo de operação. Estranho, não? E mais estranho o empenho, quase patológico, de certos setores em fazer esse puxadinho contrariando todas as opiniões técnicas que o contra indicam.
Além da perturbação sonora pelo uso noturno de aeronaves cargueiras operando com carga reduzida e em pista curta, inadequada, coloca-se em risco a segurança das tripulações, dos passageiros e das populações do entorno, incluindo os bairros que estão na rota de aproximação (Lagoinha, Ribeirânea, por exemplo), potencializando o Leite Lopes como o Congonhas Caipira dos Canaviais.
É o entorno do stock-car, é o entorno do Parque Permanente de Exposições, é o entorno ao aeroporto Leite Lopes, todos prejudicados e com razão. Mas só foi atendida a reclamação do entorno das classes médias alta porque podem se desinteressar em comprar imóveis afetados pela corrida de stock-car. Aí se levanta o interesse econômico imobiliário, transvestido de defesa do interesse público, mandando mudar a competição automobilística para outro canto.
Mas a população do entorno do Leite Lopes, por acaso a mesma do entorno do Parque Permanente de Exposições, também exige respeito. O Carnabeirão, assim como as outras festas baladas, deve ser deslocado para onde não incomode ninguém. O Leite Lopes também.
Por isso,
O Leite Lopes fica como está e um aeroporto novo já!!!
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