30/03/2014 - 21:50
Maria Aparecida dos Santos (Cidinha) (1947-atual): Ficou
3 anos, 3 meses e 25 dias presa, período em que foi torturada por, inclusive, o
delegado do Dops Sérgio Fleury. Mora em Ribeirão e é historiadora. (Foto:
Matheus Urenha / A Cidade)
Em setembro de 1969, Cidinha chegou ao Dops
(Departamento de Ordem Política e Social) quase sem forças para ficar em
pé. Ao seu lado,
dois companheiros da Ação Libertadora Nacional (ALN) estavam baleados.
“Vocês caíram da
escada? Trombaram com uma Fenemê [caminhão]”, ironizou o delegado Sérgio Fleury
Paranhos, sentado sob um quadro com uma caveira e dois ossos cruzados, símbolo
do esquadrão da morte da polícia. “Era um olhar metálico”, lembra Maria
Aparecida dos Santos, então com 22 anos.
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Recém-saída de quatro dias
ininterruptos de tortura na sede da Oban (Operação Bandeirante), a jovem
ficaria mais dois meses presa no Dops – um dos locais mais temidos na ditadura
militar. Depois, foi para o presídio de Tiradentes.
Dividiu a cela
6, entre 1970 e 1972, com a presidente Dilma Rousseff, que chegou a descrever
como uma pessoa muito alegre, brincalhona, mas, como a grande maioria, muito
sensível com o que acontecia e muito solidária. “Era uma pessoa que tinha
convicção do que defendia, assim como todos nós.”
Cidinha recorda que sofreu na prisão todo
tipo de violência: “cadeira do dragão, choques elétricos, sessões de
espancamento, fiquei nua no pau de arara...”, diz Cidinha. Até hoje, com 67
anos, ela carrega problemas de audição pelos tapas que levou no ouvido. “Em alguns
momentos, nem gritar conseguíamos. Tudo o que saía era um apelo rouco.”
Após três anos,
três meses e 25 dias, ela foi liberada. Antes, foi ameaçada de morte pelo major
Carlos Alberto Brilhante Ustra, outro expoente do regime militar. Lembro até
hoje o nome de todos os meus torturadores, tenho muito a contar”, diz ela, que
foi uma das 834 pessoas que deram depoimento na Comissão Nacional da Verdade.
Em breve, deve fazer o mesmo na Estadual, conduzida pela Assembleia
Legislativa.
Vereador Cangussu diz que Câmara não tem estrutura (Foto:
Milena Aurea / A Cidade)
“Ribeirão tem um acúmulo tremendo de
histórias, é um
desperdício de memória não aproveitá-las”, diz o deputado estadual Adriano
Diogo (PT), presidente da comissão estadual. Criada em fevereiro de 2012, até
o começo deste ano ela havia ouvido cerca de 500 testemunhas – entre elas,
Áurea Moretti.
‘Não temos
estrutura para isso’, diz vereador
O vereador Beto
Cangussu (PT) reforça a necessidade de Ribeirão ter uma comissão própria, mas
já adianta: “Não temos estrutura suficiente para isso, e para fazer algo superficial
é melhor nem criar”, diz.
Atualmente, o
Museu de Imagem e Som possui alguns relatos gravados sobre o período.
Entretanto, não há um projeto municipal voltado especificamente para resgate e
preservação de memória.
Questionadas
pelo A Cidade, as assessorias de
imprensa da prefeitura e da Câmara Municipal afirmaram não existir projetos de
Comissão da Verdade ou similares em andamento.
“A Comissão não
implica apenas o passado, ela é mais atual do que nunca. Se não entendermos a
ditadura, não compreenderemos a nossa democracia insegura”, defende o deputado
estadual Adriano Diogo (PT).
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