A Cidade - Sábado 27 de Novembro de 2011
‘Compradores’ de imóveis populares revelam esquema
Pessoas que pagaram, e não receberam, revelam como é a negociação
Jucimara de Pauda
Ponto de ônibus, conversas com amigos, indicações de parentes e vizinhos, visitas aos locais onde as casas iriam ser construídas e até pagamento parcelado. Estas foram as estratégias usadas pela autônoma Marta Aparecida Mobiglia, 45 anos, e pela arquiteta Maria Rosa Lopes Ferreira, 57 anos, para venderem ilegalmente o sonho da casa própria para pelo menos 200 pessoas, de acordo com lista entregue pela dupla à Polícia Civil.
A reportagem ouviu testemunhas que revelaram detalhes do esquema. As mulheres cobravam entre R$ 1.500 e R$ 3.000 das pessoas que precisavam de uma moradia e diziam que elas iriam receber casas no Paulo Gomes Romeo, zona Oeste da cidade. Elas afirmavam ainda que as residências eram destinadas a famílias que tinham rendas de até três salários mínimos e que seriam entregues casas com dois e três dormitórios. Algumas delas teriam aquecedor solar e as prestações seriam de R$ 74.
"Eu fui até ver o lugar onde seria a minha casa. Fiquei numa felicidade quando vi o bairro Paulo Gomes Romeo. Agora não tenho casa e nem dinheiro", diz uma das vítimas das supostas estelionatárias.
Ela pagou R$ 1.500 à prestação. Os últimos R$ 900 foram quitados porque ela indicou amigos para a compra da casa. "Cada pessoa que eu levei elas abateram R$ 100", diz um comprador.
De acordo com uma das pessoas que adquiriram o imóvel fantasma, Marta e Rosa não falavam que eles estavam "furando" a fila da Cohab, que tem quase 15 mil inscritos. Elas alegavam que prestavam serviços para pessoas da prefeitura que tinham direito a vender uma cota de casas. "Elas não diziam que a gente ia furar a fila. A Rosa falava que prestava serviços para a Cohab como arquiteta e que estava pegando documentos e dinheiro de pessoas que precisavam de casa", diz um rapaz que pediu para não ser identificado.
As vítimas afirmam que as duas mulheres pediam documentos pessoais autenticados, certidão de nascimento dos filhos e comprovante de residência.
"Elas afirmavam que os papéis e o dinheiro iriam para a prefeitura e que as casas seriam entregues para a gente. Elas não falavam em sorteio. Não pagamos para furar fila. Achávamos que era um projeto legalizado", afirmou.
Ela explica que não quer ser identificada por medo. "Não coloque o meu nome porque eu tenho medo do envolvimento de políticos", diz.
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