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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Cultura e Ocupação

Vinícius Barros

CULTURA E OCUPAÇÃO
A cidade é um lugar que mistura diferentes desejos, ritmos e formas de apropriação do espaço. Quanto maior ela é, mais diversidade tem, causando uma sensação permanente de simultaneidade e até mesmo de anonimato perante o excesso de informações e acontecimentos. Principalmente em seus espaços centrais, e também nas zonas de confluência dos bairros mais afastados, as atividades econômicas se misturam com os mais variados rituais do cotidiano numa dinâmica que não cessa.
A partir de um rápido olhar pode-se perceber os diversos elementos que compõem a paisagem urbana, como o comércio, a propaganda, a religião, a vadiação, o fluxo e, como nos interessa principalmente, as atividades culturais, entendidas aqui como uma variedade de experiências e saberes estéticos e artísticos humanos. No meio de toda essa composição frenética, eis que surge a arte como um descanso para os olhos e os corações de quem se vê inteiramente submerso na experiência social.
O leitor mais cético ou distraído se perguntará onde é que se encontra a dita arte nesse emaranhado de automóveis, prédios, gente e detritos, mas não sem motivo, já que a escassez ainda é uma realidade para nós em Ribeirão Preto e outras cidades da região. Nosso centro ainda é dominado pelo fluxo desorganizado dos veículos, pelas construções deterioradas, pelos panfletos e pelas pessoas apressadas focadas principalmente no trabalho e no consumo. Normalmente não se absorve muita arte no dia-a-dia.
A atual realidade, no entanto, parece estar sendo alterada pela ação organizada de grupos culturais e correntes artísticas cada vez mais consolidadas na cidade. Seja a partir de seus próprios recursos ou de recursos adquiridos por editais e leis de incentivo movidos por políticas públicas de cultura, pode-se perceber uma série de movimentos pela arte no centro e em outros lugares, como praças, parques, ruas e centros comunitários. Geralmente são apresentações e intervenções com o sentido de ocupar de maneira diferente os espaços urbanos e provocar novos sentimentos nas pessoas para com o meio.
Um exemplo salutar que vem ocorrendo desde o mês de julho em Ribeirão é o projeto “Revirarua - reconhecendo o centro da cidade”, uma realização do Grupo Teatral Engasga Gato que tem recursos de leis de incentivo e parcerias com diversos outros grupos culturais da cidade. Sua proposta é exatamente a de ocupar os espaços públicos e os patrimônios históricos da zona central com teatro, música, cultura popular, malabarismo, circo e oficinas de formação em diversas áreas artísticas. Toda a sua programação é gratuita e um dos principais palcos deste projeto é a Praça XV, no coração da cidade.
Assim como o “Engasga”, outros grupos locais também vem se esforçando para ocupar as ruas com cultura e arte. Todos eles tem em suas ações não apenas a vontade de divulgar seus trabalhos, mas também, e principalmente, a intenção de ressignificar os espaços públicos fazendo com que eles cumpram o seu papel de convívio e aprendizado coletivo. Além disso, também procura-se promover um sentimento de que todo cidadão é um artista em potencial, por isso são sempre realizadas oficinas para difundir os saberes.
Democratizar o acesso à cultura tirando-a dos espaços privados e, consequentemente, segregados, é possibilitar um novo olhar, tanto para as artes quanto para a própria cidade, ampliando o sentimento de pertencimento. Este é um proveitoso caminho para gerar um maior cuidado do cidadão com a sua cidade, é o exercício da cidadania. Porém, ainda é necessário ampliar a frequência e a intensidade das ações culturais urbanas, somente assim haverá o devido reconhecimento de sua importância fundamental para a vida em sociedade.

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