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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Controle de Inundações nas Metrópoles / Breve Histórico da UGT / Vale Cultura


Controle de Inundações nas Metrópoles: ausência de gestão integrada
A região da Baixada Fluminense no Rio de Janeiro foi atingida por fortes chuvas no começo de 2013, resultando em duas mortes e mais de 2,5 mil pessoas desabrigadas. O problema é antigo no Brasil. Segundo Paulo Carneiro (COPPE/UFRJ), todo ano cidades das regiões Sul e Sudeste sofrem com as enchentes por causa da ocupação irregular do solo urbano e ausência de um planejamento integrado para os recursos hídricos. Em entrevista ao Observatório das Metrópoles, o pesquisador analisa a política de controle das inundações, comenta a barreira institucional para uma gestão integrada das águas e crítica o sistema de alerta brasileiro. “A cada tragédia que ocorre por conta das chuvas é como se fosse a primeira vez!”.
#internacional
Seminário A Cidade Neoliberal na América Latina: convocatória de trabalhos
A Rede Latino-americana de Pesquisadores sobre Teoria Urbana divulga chamada de trabalhos para o Iº Seminário Internacional “A Cidade Neoliberal na América Latina: desafios teóricos e políticos”, cujo objetivo é conceber uma metodologia comum sobre o tema da metropolização e desenvolver uma teoria urbana da América Latina. O evento será realizado no Rio de Janeiro, no período de 06 a 08 de novembro de 2013, sob a coordenação do INCT Observatório das Metrópoles, visando incentivar a formação de um pensamento teórico-crítico latinoamericano sobre a problemática urbana da região. O prazo para apresentação de resumos é 24 de fevereiro.
#artigo
Segregação urbana e mercado de trabalho em Salvador
Neste artigo Ângela Maria de Carvalho Borges e Inaiá Moreira de Carvalho apresentam resultados preliminares de um estudo do INCT Observatório das Metrópoles sobre a relação entre segregação sócio espacial e o mercado de trabalho, com base na experiência de Salvador. O trabalho aponta que ao final de 2010 persistiam ainda na capital baiana alta taxa de desemprego (13%) e largos contingentes de pessoas na informalidade (17,6% empregados sem carteira; 18,7% conta própria e 1,1% não remunerados) – indicadores que confirmam um mercado de trabalho marcado pela pobreza da maior parte das ocupações que gera.
#megaeventos
Folheto Megaeventos e Direito à Moradia
A Relatoria Especial da ONU para o Direito à Moradia Adequada divulga o folheto “Minha Cidade virou sede de um megaevento esportivo: o que pode acontecer com meu direito à moradia?”. A publicação tem como objetivo mostrar à sociedade civil o que se pode fazer na defesa dos direitos em um contexto de preparação para a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos 2016 que serão realizados no Brasil. O folheto aborda quatro tipos de cenários relacionados ao que pode acontecer nas cidades-sede dos eventos esportivos: remoções forçadas, elitização e mercantilização das cidades, aumento dos gastos públicos e leis de exceção.
#lançamento
Por uma sociologia do presente | Ana Clara Torres Ribeiro
“Por uma sociologia do Presente: Ação, Técnica e Espaço” é uma homenagem ao pensamento da professora Ana Clara Torres Ribeiro, que integrou o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ) de 1984 a 2011. Um dos destaques do livro é o debate aberto por Ana Clara sobre a análise da Sociologia do Presente, que se refere à responsabilidade das interpretações científicas e a busca da totalidade que descreve as relações entre Ação, Técnica e Espaço, contextualizada na análise da radicalização da democracia, da criminalização da pobreza e da profunda crise societária.
#chamada
Revista e-metropolis | Chamada de trabalhos
A revista eletrônica e-metropolis convida os pesquisadores que tenham como tema os múltiplos aspectos envolvidos nos estudos relacionados à vida nas grandes cidades a submeterem trabalhos para sua próxima edição. A publicação prioriza trabalhos que garantam o caráter multidisciplinar e que proporcionem um meio democrático e ágil de acesso ao conhecimento e estimulem a discussão sobre os múltiplos aspectos envolvidos na vida nas grandes cidades.
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Patrimônio vivo: um breve histórico da UGT

Por quais motivos uma sociedade se presta a manter preservadas as suas construções se não para que permaneçam vivos os seus ideais? Um patrimônio, isto é, aquilo que passa de pai para filho, tem como importância fundamental a continuidade de valores que nos são importantes. No caso das edificações, podem significar muito mais do que isso, elas podem representar a resistência para grupos contra-culturais e contra-hegemônicos. Este é o caso da popular UGT, localizada na antiga Rua José Bonifácio, no centro de Ribeirão Preto.

Erguida em 1934 com o nome de União Geral dos Trabalhadores, a UGT passa, desde então, a sediar importantes acontecimentos ligados aos trabalhadores ribeirãopretanos e suas lutas políticas por melhores condições de trabalho. Sindicatos e partidos orientados pelos ideais de esquerda, como o Partido Comunista Brasileiro, realizaram neste edifício diversas reuniões e encontros pautados pelo ideal de resistência e progresso social. Greves, manifestações e atos políticos eram decididos e também realizados no interior da UGT.

Porém, trinta anos depois, em 1964, o golpe militar que levou o Brasil à ditadura também recai sobre a UGT e seus integrantes. Muitos foram presos e provavelmente torturados pelo sistema ditatorial, um sistema defensor de valores antagônicos aos dos trabalhadores anarquistas e comunistas que ali atuavam. A cidade perdia, naquele momento, um dos seus principais redutos de resistência e articulação política voltadas aos ideais democráticos.

O prédio, no entanto, se mantém preservado e passa a sediar associações mantidas pelo povo negro da cidade. Sob o título de Zé do Patrocínio, em homenagem a esta figura histórica do abolicionismo e das ações de resistência negra no Brasil, a UGT começa uma nova fase da sua história, naquele momento sediando ações sociais e culturais dos negros de Ribeirão Preto.

Com a chegada desses grupos, forma-se uma nova comunidade em torno do edifício, sem dúvidas não menos importante na capacidade de concentrar propósitos de resistência. A capoeira, por exemplo, teve neste espaço um terreno fértil para sua expansão local. Além disso, há relatos vivos de grandiosos bailes de gafieira no interior do antigo prédio. Por esses relatos também é possível compreender o valor que a UGT passou a ter para a comunidade negra, principalmente por causa do histórico de segregação racial que ocorria no centro da cidade.

Porém, no início da década de 2000, com o passar dos anos e pela falta de investimentos na estrutura física do prédio, a UGT se encontrava extremamente degradada. Fotos de 2003 retratam o espaço como um salão de cabeleireiros e comprovam que, além da decadência estrutural, havia também uma perda dos objetivos políticos e culturais que sempre tiveram vez ali. Naquele período, a comunidade negra já não possuía a mesma articulação e passava a se organizar em outros espaços.

Nesse contexto, em virtude da destruição de grande parte das edificações históricas da Cerâmica São Luiz para a construção de um supermercado em 2003, inicia-se uma ação no Ministério Público para punir a empresa responsável. A ação civil pública os obrigava a parar imediatamente o desmanche dos bens arquitetônicos da Cerâmica e, como forma de compensação aos danos causados pela imoral atitude, também exigia o restauro completo da antiga UGT. Vencida a ação, com muito esforço da sociedade civil em luta conjunta com o MP, inicia-se a reforma.

Restaurada e tombada como patrimônio histórico municipal pelo CONPPAC (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural), a UGT passa a sediar duas associações, a Associação Cultural e Ecológica Pau Brasil, entidade ambientalista atuante na cidade desde 1988, e a Associação Amigos do Memorial da Classe Operária - UGT (AAMCO-UGT), entidade sem fins lucrativos e que surge com o objetivo de realizar a gestão e movimentação do prédio. Além delas, funda-se o Seminário Gramsci, grupo de ação política baseado na obra de Antonio Gramsci, pensador marxista italiano.

Juntos estes grupos passam, a partir de 2004, a resgatar o propósito original da UGT: reunir pessoas com ideais democráticos, favorecer a resistência cultural e a justiça social, pautando sempre a autonomia política da sociedade civil. Em virtude da dedicação dos representantes das entidades sediadas no Memorial da Classe Operária - UGT foi se tornando possível o resgate do brilho deste importante patrimônio histórico.

Em meio a este processo surge em 2010 um edital público vinculado ao Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura para instituir uma rede de Pontos de Cultura e um Pontão no município. Diante dessa possibilidade, decide-se, entre os integrantes das entidades reunidas, concorrer a Pontão de Cultura com o projeto Sibipiruna. Um tiro certeiro!

Com a vitória no edital, a AAMCO-UGT passa a movimentar sua própria ação cultural com o suporte de recursos públicos, surge o Pontão de Cultura Sibipiruna. Seu objetivo viria a ser realizar a gestão e articulação de uma rede de dez outros Pontos de Cultura, ações culturais voltadas ao ensino e difusão de cultura e arte sob uma perspectiva sócio-educativa e de resistência de saberes ancestrais. Além disso, a UGT/Pontão Sibipiruna começa a se destacar como parceira de diversos outros grupos e movimentos culturais da cidade.

Hoje, com dois anos de Pontão e com a continuidade das ações da AAMCO-UGT, Associação Pau Brasil e Seminário Gramsci, além de outros grupos como o Grupo Maracatu Chapéu de Sol que realiza seus ensaios e oficinas no espaço, a popular UGT pode ser considerada um dos mais significativos patrimônios materiais de Ribeirão Preto. Com quase 80 anos de existência, guarda entre seus pilares histórias de lutas, resistência e dedicação de homens e mulheres com ideais libertários e democráticos.

Neste patrimônio vivo, seja pela via do trabalho, das lutas pelo meio ambiente, da preservação da memória ou da cultura, é possível encontrar ali um espaço para o cultivo de valores éticos e pessoas dispostas a enfrentar lutas coletivas. Podemos afirmar que os trabalhos que hoje estão em curso fazem valer o investimento de recursos públicos que alimentam o Memorial da Classe Operária - UGT. Dessa forma, cumpre-se o papel da preservação patrimonial, sempre pautando o resgate e manutenção dos valores responsáveis pela sua criação e existência.
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FOLHA DE S. PAULO 16/01/2013
Tendências/Debates: "A gente não quer só comida"
MARTA SUPLICY

A Folha publicou editorial ("Vale-populismo" ) crítico do Vale-Cultura (VC). Chama de "populismo" e promoção pessoal e eleitoreira projeto de lei que buscava aprovação desde 2009. Com a regulamentação do VC, empresas poderão passar R$ 50 a seus funcionários que recebam prioritariamente até cinco salários mínimos (R$ 3.390) para gastarem em cultura.
O Brasil nos últimos anos, com Lula e agora Dilma, tem dado passos gigantescos para acabar com a miséria. Não preciso citar os números dos que hoje comem nem dos que hoje entraram na classe média. O Bolsa Família, trucidado pela oposição, hoje é comprovadamente um instrumento de erradicação da pobreza.
O Vale-Cultura pode, sim, ser o "alimento da alma". Por que não? Pela primeira vez o trabalhador terá um dinheiro que poderá gastar no consumo cultural: sejam livros, cinema, DVDs, teatro, museus, shows, revistas...
Lembro que, quando fizemos os CEUs (Centro Educacional Unificado), na pesquisa (2004) realizada no primeiro deles, na zona leste, 100% dos entrevistados nunca tinham entrado num teatro e 86%, num cinema. Quando Denise Stoklos fez seu espetáculo de mímica, a plateia se remexia inquieta até entender a linguagem e não se ouvir uma mosca no teatro, fascinado.
Fomento ao teatro, aquisição de conhecimento e bagagem cultural! Não foi à toa que Fernanda Montenegro ficou pasma com a plateia dos CEUs. Essas pessoas, se tiverem criado gosto, finalmente poderão usufruir e escolher mais do que hoje podem. E os que não têm CEU têm televisão e conhecem o que é oferecido para determinado público. Sabem também o que aparece no bairro. E sabem que não podem ir.

Existe toda uma multidão de brasileiros (17 milhões) que hoje ganha até cinco salários mínimos (R$ 3.390) que potencialmente poderão, além de comer, alimentar o espírito. Este é um projeto de lei que toca duas pontas: o cidadão que vai consumir e o produtor cultural que terá mais público para sua oferta.
Quando chegarmos nesse potencial, serão R$ 7 bilhões injetados na cultura. Nossa previsão é atingir R$ 500 milhões neste ano.
Em 2008, o Ibope realizou pesquisa sobre indicadores de cultura no Brasil e mostrou que a grande maioria da população está alijada do consumo dos produtos culturais: 87% não frequentavam cinemas, 92% nunca foram a um museu; 90% dos municípios do país não tinham sala de cinema e 78% nunca assistiram a um espetáculo de dança.
Segundo a Folha, estaremos incentivando blockbusters e livros de autoajuda. Visão elitista. Cada um tem direito de consumir o que lhe agrada. Não esqueço quando, visitando um telecentro, fiquei indignada que a maioria dos jovens estava nos chats de um reality show. Fui advertida pela gestora: "Esse é um instrumento que eles estão aprendendo a usar. Depois, poderão voar para outros interesses. Ou não".
Não custa lembrar que a fome pelo acesso à cultura é enorme, o que ficou evidente nas filas quilométricas na mostra sobre impressionistas quando apresentada gratuitamente pelo Banco do Brasil.
O que a Folha também menosprezou é a enorme alavanca que o VC pode representar e desencadear na economia. A cadeia produtiva da cultura é o investimento de maior rentabilidade a curto prazo. Para uma peça de teatro, você vai desde os artistas, ao carpinteiro, cenógrafo, vestuário, iluminador...

Quanto ao recurso ir para formação e atividades de menor sustentação comercial, citadas como prioritários pela Folha, os editais do ministério, os Pontos de Cultura, têm exatamente essa preocupação, assim como os CEUs das Artes e Esporte que são, no momento, 124 em construção no país.
"A gente quer comida, diversão e arte." (Titãs)

MARTA SUPLICY, 67, é ministra da Cultura. Foi prefeita de São Paulo (2001-2004), ministra do Turismo (2007-2008) e senadora (2011-2012) 
Quero encaminhar essa mensagem para meus contatos,

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