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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Salve Jorge

Aos 84 anos, ele faz a síntese entre as épocas
Vai do gramofone ao notebook. Nascido em Santos, Pires passou a vida pesquisando e se atualizando
21/09/2014 - 19:07

 “Nossa, se deixar ele fica aqui o dia todo. Vai dormir sempre quase duas horas da manhã”, entrega a mulher do professor Jorge de Azevedo Pires, Araci Maglio de Azevedo Pires, 75 anos.
Nascido em Santos, a casa onde Pires cresceu foi restaurada e hoje é a Pinacoteca da cidade.
Pires sempre foi apaixonado por livros e comprou o primeiro quando tinha em torno de 14 anos, o Almanaque Imperial Francês, de 1865.
Quando questionado sobre qual exemplar é o seu preferido, ele desconversa e diz que não consegue escolher apenas um título.
Muitos livros foram presentes e o professor aprendeu a não emprestá-los.
“Só empresto para quem é muito cuidadoso e devolve, como eu”, explica.
O professor passou a vida pesquisando. É uma espécie de síntese entre dois mundos. É curioso observar as máquinas de escrever antigas, os aparelhos telefônicos de mais de um século de história ao lado do computador, impressora, notebook, tudo disposto sobre a escrivaninha que ele ocupa.
“Precisei me atualizar”, diz.
Pela casa, outras raridades de colecionadores são encontradas, como incontáveis discos de vinil, uma coleção de um armário inteiro de parafusos, além dos móveis de época, que pertenceram à casa na qual ele cresceu em Santos.
Vivendo em Ribeirão desde 1982, a família tem recebido ligações de todo o canto do Brasil de universidades interessadas em seu acervo. “Prefiro que fique no estado de São Paulo, me faria mais feliz se ficasse em Ribeirão Preto”, comenta. Mas, onde?
Revistas são outra paixão do professor
Além da paixão pelos livros, o professor Jorge de Azevedo Pires também coleciona mais de 300 exemplares de primeiras edições de revistas brasileiras.
A maior parte desse acervo ele já conseguiu escanear e guarda em uma pasta no computador.
“Tenho as principais revistas, a primeira edição da Playboy, Veja, Homem, a Quatro Rodas e muitas outras que hoje já nem circulam mais, ou circularam por pouquíssimo tempo”, conta.
Revistas e publicações de Ribeirão Preto também se encontram nesse acervo, como a Revista-se, de 1999 e a Ribeirão News.
“Fui olhar na Internet quanto valia uma dessas primeiras edições e achei pessoas que pagariam até R$ 600, mas eu não vendo”, diz ele.
Como venderia o que não tem preço?


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

CARTA DO MST AOS CANDIDATOS E CANDIDATAS

Confira Nota da Direção Nacional do MST aos candidatos e candidatas à Presidência da República e aos governos estaduais, analisando a situação dos camponeses, Sem Terra, exigindo mudanças econômicas, sociais e estruturais para que se cumpra uma Reforma Agrária de fato:

CARTA DO MST AOS CANDIDATOS E CANDIDATAS
Os períodos eleitorais devem ser momentos de debate sobre as grandes questões estruturais da sociedade brasileira, apontando a natureza de nossos problemas e as soluções necessárias. Infelizmente, cada vez mais, o poder do capital sequestra a política e as instituições públicas, impedindo as transformações políticas e econômicas que interessam ao povo brasileiro.
Há 30 anos, o MST tem contribuído com a democratização da terra, através da luta pela Reforma Agrária. Em fevereiro de 2014, realizamos nosso VI Congresso, com a aprovação de nosso Programa Agrário em defesa da Reforma Agrária Popular.
Lutamos por mudanças na relação com os bens da natureza, na produção de alimentos e nas relações sociais no campo. Queremos contribuir de forma permanente na construção de uma sociedade justa, igualitária e democrática.
A terra precisa ser democratizada e cumprir com sua função social. O campo dever ser um espaço bom de viver, onde as pessoas tenham seus direitos respeitados, com a garantia de condições dignas de vida. Lutamos e exigimos uma política efetiva, estruturante e massiva de Reforma Agrária Popular, indispensável para a permanência das famílias no campo, com produção e distribuição de riquezas.
Exigimos a atualização imediata dos índices de produtividade prevista na legislação brasileira, possibilitando o acesso à terra a milhares de famílias. Precisamos da elaboração e execução de um novo Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), com metas de assentamento de famílias e estabelecimento de prioridades por regiões.
É necessário a arrecadação das terras griladas da União e a desapropriação de latifúndios em todos os estados. Além disso, as terras devolutas invadidas, principalmente, pelo capital bancário e pelas empresas transnacionais do agronegócio, devem ser desapropriadas para fins de Reforma Agrária.
O mesmo deve acontecer com as fazendas endividadas com os bancos públicos e órgãos do governo, com as áreas onde houver identificação com exploração de trabalho escravo e as que não cumprem a função social.
Cobramos o assentamento imediato das mais de 120 mil famílias que estão vivendo em condições precárias em centenas de acampamentos por todo o país. É necessário destinar para a Reforma Agrária as terras dos projetos de irrigação e as do entorno dos canais de transposição das águas.
Para isso, faz-se necessário o fortalecimento, reorganização e qualificação do INCRA, como órgão responsável pela Reforma Agrária e que garanta as condições de implementá-la.
Nos somamos às lutas e às reivindicações, junto às demais forças sociais do campo, para a imediata demarcação e legalização de todas as áreas indígenas e quilombolas e as de posse de ribeirinhos, pescadores e comunidades tradicionais, como estabelece a Constituição Federal de 1988.
A não realização da Reforma Agrária agrava os conflitos sociais no campo. Clamamos por justiça e pela punição aos mandantes e assassinos dos trabalhadores e trabalhadoras no campo.
A agricultura brasileira deve priorizar a produção de alimentos saudáveis, como um direito humano e como princípio da Soberania Alimentar. Alimento não pode ser mercadoria, fonte de exploração, lucro e especulação.
Para isso, exigimos políticas públicas que garantam condições para a produção agroecológica, sem agrotóxicos, com qualidade, diversidade e preço barato para toda a população brasileira.
Os governos federal e estaduais precisam incentivar e garantir a produção, seleção e armazenamento de sementes pelos próprios camponeses, combatendo assim as sementes transgênicas e a dependência política e econômica das empresas transnacionais que monopolizam sua produção e comercialização. Somos contra as leis de patentes e a privatização de nossas sementes.
É indispensável, para o desenvolvimento social e econômico do campo, retomar, ampliar e garantir os instrumentos de compra de todos os alimentos produzidos pela agricultura camponesa, para atender escolas, sistema de saúde, de segurança e universidades, a exemplo do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
A educação é um direito fundamental de todas as pessoas e deve ser atendido no próprio lugar onde vivem, respeitando o conjunto de suas necessidades humanas, culturais e sociais. Necessitamos que todas as áreas de assentamentos e acampamentos tenham sua própria escola, com condições necessárias para o seu funcionamento.
Não aceitamos o fechamento de nenhuma escola do campo e exigimos a implementação de um programa massivo de erradicação do analfabetismo. Lutamos pela defesa, universalização, ampliação de recursos e o acesso efetivo ao Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), garantindo que jovens e adultos, que vivem no campo, possam avançar na escolarização.
O assentamento é nosso território de luta, produção, reprodução e garantia de nossa vida, lugar de defesa e construção de um modelo de agricultura, com a produção de alimentos saudáveis e acesso aos bens sociais e culturais. Para isso, é necessário assegurar condições dignas de vida às populações camponesas e urbanas, produzindo uma nova sociabilidade.
Exigimos políticas de proteção dos bens naturais, das águas e fontes, assegurando que todas as famílias camponesas tenham acesso à água potável e de qualidade, com saneamento básico. Repudiamos o processo de privatização da água.
Lutamos pela implementação de um programa de moradia popular no campo, que garanta o seu acesso de forma rápida e desburocratizada, eliminando o déficit atual de mais de 1 milhão de casas para a população camponesa.
Reivindicamos a ampliação e execução de um programa de agroindustrialização nas áreas de Reforma Agrária, a partir das cooperativas de trabalhadores e trabalhadoras, de forma desburocratizada.
É preciso assegurar o desenvolvimento de tecnologias apropriadas à realidade das comunidades camponesas com o desenvolvimento de programas de máquinas e equipamentos agrícolas.
É urgente a reorganização e fortalecimento do sistema público de Assistência Técnica e Extensão Rural, voltado e subordinado às necessidades e objetivos dos camponeses e das camponesas.
A ele deve somar-se um programa de crédito rural que contribua para a estruturação do conjunto de todas as unidades e sistemas produtivos, estimulando e fortalecendo o cooperativismo, a comercialização e a industrialização da produção.
Exigimos a garantia e ampliação dos direitos trabalhistas e previdenciários aos trabalhadores e trabalhadoras do campo e assalariados rurais.
É necessário o compromisso de todos e de todas para a realização de uma ampla Reforma Política, que democratize as instituições e possibilite ao povo o direito de escolher seus representantes. E para isso exigimos a convocação de uma Assembleia Constituinte soberana e exclusiva, ainda em 2015.
São essas algumas das mudanças urgentes e necessárias, para melhorar as condições de vida e de renda no campo, que todos os governantes eleitos devem implementar. Reafirmamos nossa disposição em lutar, de forma permanente, em defesa e na construção da Reforma Agrária Popular e de uma sociedade socialista.
Direção Nacional do MST